Viramundo – letra: Fernando Sabino; adaptação: Bequadros
Virado mundo geral
Geraldo Viramundo
botou cigarro na boca de sapo para ele fumar até rebentar,
se escondeu na cesta de roupa suja
para ver a irmã mais velha tomar banho,
quis pegar a mais nova e depois teve remorso,
perdeu a virgindade numa cabrita
fugiu de casa e apanhou e por isso tornou a fugir
e por isso tornou a apanhar
contou quantas vezes fez coisa feia
pra se lembrar na confissão,
procurou não mastigar a hóstia para que não saísse sangue,
foi à missa aos domingos
foi coroinha na igreja,
comeu manga com leite e adoeceu
Virado mundo geral
Geraldo Viramundo
amarrou lata vazia em rabo de gato,
fez galinha dançar em cima de lata quente,
contou com o ovo no rabo da galinha,
enfiou o dedo dentro dela
enterrou ovo choco e fez fogo em cima
para ver se nascia pinto
fugiu de casa e apanhou
e por isso tornou a fugir
e por isso tornou a apanhar
furtou garrafa de guaraná e depois mijou dentro
ficou preso pela piroca no gargalo
ficou com pedra na maminha e perguntou à mãe o que era
sentiu dores nos culhões,
comeu a negra Adelaide e virou homem
Virado mundo geral
Geraldo Viramundo
Sonho de menino Paulinho Pedra Azul
Quando era menino
Eu via a lua saindo
Pensava assim comigo
Um dia eu vou lá
De jeep ou caminhão
De barco ou de avião
Se eu não puder voar
Cresceu meu coração
Me trouxe outra emoção
E o sonho de menino
Voou… voou…
Verossímil – Letra: Adélia Prado; Música: Bequadros
Antigamente, em maio, eu virava anjo
A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
“Canta alto, espevita as palavras bem.”
Eu levantava vôo rua acima.
Desprezo o modo como as pessoas vivem
Eu desprezo a moda
Desprezo o caso contado às pressas
Eu dispenso a caça
Desprezo a fama dos estúpidos
Eu desprezo a fome
Desprezo o amor por interesse
Eu dispenso Roma
Faça de meu descaso o teu acaso
e o ocaso fechará o dia
Faça do meu fraco o teu forte
Do meu triste o teu norte
Desfaço os mitos controladores
Eu desfiro o golpe
Desprezo toda e qualquer bandeira
Eu dispenso a pose
Desprezo os termos dos poderosos
Eu dispenso ternos
Desprezo as falsas saudações
Eu desprezo a farda
Faça de meu descaso o teu acaso
e o ocaso fechará o dia
Faça do meu fraco o teu forte
Do meu triste o teu norte
Prefiro o canto desencontrado
Eu almejo a fuga.
O contraponto encantoado.
Música é musa.
Prefiro o lento ao apressado,
trabalhar à toa
ou o sujeito à oração
tempo que perdoa
Faça de meu descaso o teu acaso
e o ocaso fechará o dia
Faça do meu fraco o teu forte
Do meu triste o teu norte
Alguém, alguma vez, já realmente venceu uma guerra?
Tentei cantar sem respirar
Tentei musicar outra canção
Valeu demais, mas não volto atrás
A vida me vem com outro bem
O violão
Caetano está a Djavanear
O canto me vem como um sorriso
E neste lugar eu vou trabalhar
O aplauso é o pão da profissão
E o meu refrão é:
E vou de verso em verso mas não sei rimar
E é tudo inverso que eu vou aprender
E vou de verso inverso mas não sei rimar
E é tudo em verso que eu vou aprender
E se você me acompanhar…
Eu levarei a vida a cantar!
Vou aproveitar e agitar
Sentar no chão é algo em vão
Eu tomo coragem para continuar
No meu refrão toco o violão
E cantam vocês
O meu silêncio é musical
O meu barulho é instrumental
Acorde e vem mostre o que não tem
vou transformar a lágrima nesta canção
E vou de verso em verso mas não sei rimar
E é tudo inverso que eu vou aprender
E vou de verso inverso mas não sei rimar
E é tudo em verso que eu vou aprender
E se você me acompanhar…
Eu levarei a vida a cantar!
E se você me acompanhar…
Eu levarei a vida a cantar!
Sugestão: desligar o seu coração
É ele quem te leva à loucura
Ser louco pode ser o caminho são
pra desvestir da culpa.
Conhecer não é o mesmo que saber
saber é o caminho para o clarão
é claro que depende de ti
para a transformação
lave-me
leve-me
live me
love me
lux me
ala-me! ela-me! ilha-me enquanto me olha.
face a farsa
força e disfarce
à fuça
louva-me!
lisa me
valha-me
vire-me
voca me
ENLOUAQUEÇA-ME
o fato de alguém discordar de mim,
não tira a minha razão
prazer nós teremos em compartir
cantar
dançar
Não mais eu tento ser do jeito que nunca fui
Hoje me aceitei mesmo sem credo e sem cruz
Nunca se pode crescer mentindo,
nunca se pode sofrer sorrindo
Nada me fará esquecer do seu beijo de boa noite e tchau
Penso nos outros, aqueles outros normais
Que se mantem intocáveis, com suas vozes fatais
Peça se quiser ganhar, a alma se pode curar
carinho não se pode comprar, só trocar e curtir
Nada mais me impede de viajar sem partir
Todos me rodeiam, perguntam como ser feliz
No sonho se pode voar, na vida eu sei me virar
Abrace se quiser amar e não minta pra si
Não mais eu tento ser do jeito que nunca fui
Hoje me aceitei mesmo sem credo e sem cruz
Nunca se pode crescer mentindo,
nunca se pode sofrer sorrindo
Nada me fará esquecer do seu beijo de boa noite e tchau
Nasci nos 80 sem entender de obstetrícia
Cresci mais ou menos até a gosto,
depois cansei e fui sonhar
Acordo às oito e morro às dez,
religiosamente
Sou burro por parte de mãe e feio por parte de pai
Não falo cantonês, não sei cantar
Meu joelho não é dos melhores,
mas meus sonhos são outros
Era católico, hoje sou míope
Meu humor varia entre o marrom e o branco
Na segunda eu conspiro, terça não fecho o livro
Escrevo até bem, mas só coisas ruins
Pratico repousos esporadicamente
Não tenho remédio.
Questiono qualquer questão
Sei que sou sul
Vou do início ao fino!
Quando criança, deslumbrado e sorridente,
sonhador e inocente, só bastava eu chorar
e meus pais me pegavam no colo,
me mimavam, me ninavam, me faziam acreditar
que eu podia tudo, era só apontar,
que era maior do que o mundo,
e que deles eu não ia me separar.
Mas eu cresci, mas eu cresci
Jovem, rebelado e estridente,
desleixado, inconsequente, em tudo eu dava opinião
Os meus pais só me xingavam e gritavam:
“Eu só posso ter errado na criação”
Achava que o mundo eu poderia mudar
Nem por um segundo eu pensava que devia me adaptar
Mas eu cresci, mas eu cresci
Adulto, preocupado e exigente,
estressado e descontente, não tendo tempo pra gastar
só falava com meus pais por telefone, bem pouquinho, era longe e eu não podia me atrasar
tanta reunião que eu começava a pensar qu’eu era igual a todo mundo.
pra onde essa vida foi me levar ?
Eu me vendo com o tempo, eu me vendo
Eu me vendo me vendando, eu me vendo
Eu me vendo me vendendo, eu me vendo
Eu me vendo me olhando, eu me vendo
se eu tivesse a voz
para cantar mais do que dizer
o que por dentro grito
cantaria pelas ruas à noite
com um chapéu no chão
com a veia estufada
a cara corada beirando a rouquidão
se eu tivesse o poder da voz
eu cantaria pelos telhados
para abafar todo sinal que transite
e acordar qualquer sonho deitado
espiralando o senso de direito
se eu tivesse ao meu alcance a voz
estaria sempre on the road
usaria tons mais intensos
sons mais imensos
usaria poucos e bons silêncios.
se eu não tivesse só o desejo da voz
você seria vós
Atados seriamos nós
E bate uma saudade do meu canto
O meu canto!
Sinto que minha voz perde o encanto
Minha alma não quer ficar sem paixão
Peço compaixão por me sentir assim
Quando com paixão, sou leve
Sou forte, sou vivo
Perco limites, viro um livro
Aberto eu vim, alerta estou
E me enriqueço, e não me esqueço
Muita arte, muita história,
muita morte na memória
As diferenças que fascinam
O clima, as línguas, os olhos
As rimas
E vejo que preciso cantar
O meu cantar!
Tudo parece me encantar
Mas bate uma saudade do meu canto
Do meu canto!
Mas sei que minha voz se alimenta desse pranto
Errata-Homem letra: Anderson Ribeiro; Música: Bequadros
A gente nascemos
A gente observamos
A gente aprendemos
A gente imitamos
A gente crescemos
A gente sonhamos
A gente queremos
Mas a gente deixamos
A gente esquecemos
Que a gente pensamos
A gente morremos
A gente lembramos
Que a gente pensamos
que a gente pensamos
só então nós vivemos
só então nós vivemos
Antes
Errante
Procura
Distante
Aprende plantar
Cultiva mandar
Domina
Se perde
Se vende
Se mede
Entende
Recomeçar
Só então nós vivemos
Simples oração, singelo momento
numa só canção há todo o sentimento
para agradecer teu colo, teu amor e tempo
Quando a dor e o medo insistiram em agir
foi só o teu sorriso que me fez resistir
Ê vida leve! Leve sua exigência
Deixe o canto voar livre
desfrutar sua presença
Seu abraço, seu abrigo, sua voz na consciência
Faço essa oração de amor intenso
p’a ti Pati, grito esse refrão
que vem lá do fundo do meu peito
por teu carinho, teu amor perfeito
esse silêncio vão
Paz! Pais! Faz mais!
Silenciei pra ouvir, só ouvir
O nada em mim, o nada em mim
Alguém cantando canção pra mim
E no silêncio agudo que se seguiu
Silenciei pra ouvir, só ouvir
O nada em si, o nada ali
Alguém cantando canção pra mim
E no silêncio agudo que se seguiu
Algo soou tão grave me partiu
E partido, perfeito, pretexto do meu sujeito
Pretendo lhe provocar
Com a música mais pura
Que proporciona a cura
Quando os nossos corações faz silenciar
Palavra jardim
Língua ela
Água fonte
Amor saudades
Imagem sabor
Torpor vocal
O sim o senão
Compartir algo tão belo que soe musical
Ouvir todo o vazio,
fruir o próprio existir
Sentir, antes do pensar
Uma nona sintonia
Uma nova sinfonia
Uma ode, alegria!!!
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Verossímil – bônus track – versão coral
Adélia Prado
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Pedras Gerais *
Bequadros
Minas de pedras gerais
bem no meio do caminho tem
pedras que movem poesias
que o tempo não há de apagar
estradas de pedras reais
pedra azul, pedra bonita, indaiá
dourada, o ouro das minas
barroca, a matriz do cantar
pedra miúda, de gente sofrida
pedra que risca vermelho-minério
o mineiro que grita:
somos frutos das pedras
somos força que a terra nos dá
somos filhos das serras
somos valsa mineira a bailar
pedras de quase lugar
dos tropeiros, da vereda ao luar
pedras que gravam estórias
que o mundo e o sertão vêm contar
pedra lascada é sinal
de conquistas, sob dor e oração
sangue, suor, choro negro
persistem nas pedras sabão
pedra que brilha, palavras tão vastas
rio das pedras que do alto cai e deságua
travessias irão nos guiar
somos frutos das pedras
somos força que a terra nos dá
somos filhos das serras
somos valsa mineira a bailar
somos pó dessas terras
temos fé no que a pedra nos dá
somos filhos das serras
somos valsa mineira a bailar
* Pedras Gerais não faz parte do álbum Eu Me Vendo, mas já estava presente mesmo no show de lançamento!
Estou ouvindo aos poucos… Degustando… Curtindo… Me deliciando com cada canção e letras.
Já arrepiei muitas vezes (Errata Homem e Verossímil – as 2 versões) e chorei algumas (P’a Ti Pati é emocionante e Verossímil – versão coral me traz saudade e orgulho por ter participado).
Continuo ouvindo…
Tomara que ninguém me interrompa. kkk..
Olá Cristina!
Que alegria ler sua mensagem! Mensagens como essas nos fazem ter certeza que valeu a pena toda a nossa dedicação! Pode ter certeza que o orgulho que você sente por ter participado é o mesmo que temos por termos contado com a participação de todos vocês do coral! 🙂
Muitíssimo obrigado pelo carinho!
Tem um tempo que venho acompanhando o trabalho destes dois camaradas, mas só agora, ouvindo com carinho e atenção, vejo o qto ficou bom. A cada música que ouço, vejo a sensibilidade e seriedade com que fizeram acontecer. Parabéns pelo trabalho e o desejo que mais pessoas realmente tenham o privilégio de ouvir uma boa música.
Nosso padrinho Rogério. Somos muito gratos! Lembrando que você pode sempre se ouvir em O som do nada e saber que você e Patrícia (Madrinha) fizeram parte, literalmente, dessa criação.
Escuto Bequadros todo dia! Músicas que traduzem todo o sentimento, que infelizmente não tenho o dom para expressa-los. Vocês fazem isso com uma leveza, e por isso eu agradeço! Obrigada!
O mundo não merece, mas carece e agradece! Sou super fã!
Tento escolher a minha música favorita e tem sido uma tarefa muito difícil! Em cada momento que escuto, me trazem uma sensação diferente. Amo isso!
Foi uma honra imensa poder participar de alguns momentos com vocês, por ter acompanhado um breve tempo da gestação desse maravilhoso CD ! Vocês são incríveis!
Fica aqui a minha sincera parabenização e agradecimento. Beijos!!
A gente precisa se nutrir de bons sentimentos como os que você nos traz. É só assim que conseguimos acreditar em nós mesmos e traduzir em canções o que sentimos. É uma forma de amor. É uma forma de orar. É uma forma de agradecer. Viva!
Sou suspeita para falar destes dois garotos. Os dois são meus sobrinhos e afilhados… Me sinto muito orgulhosa de falar deles e de suas músicas. Meu CD, acho que já está furando… Gosto de todas, mas as minhas preferidas são: Verossímil, Sugestão, Eu me vendo, Sonho de Menino. Parabéns a eles por tão grande sensibilidade …. e pelas canções que nos embalam e nos fazem sonhar…
“Os sonhos não envelhecem”, já diziam. A gente está feliz e fica feliz por fazer mais gente feliz junto. Nos sonhos se pode voar…
Ronaldo: conforme prometi ao Arley no show de domingo em Contagem eis o meu comentário.
Voces são o exemplo do talento de BH, mineiro e brasileiro. Alias já sabem disso, pela trajetória de cada um dos integrantes e as atividades individuais que fazem e ja fizeram. Sao a meu ver uma mistura de mpb, pop rock, jazz e clássico sinfônico.
Seu cd pode se quiserem ser transformado no concerto com orquestra sinfônica mineira, nacional e internacional, bem como uma show em parceria com o mineiro Marcus Viana. Sugestão: incluir flauta ou sax no inicio da musica Alma; escrever uma musica em português com letra completa baseada no refrão da musica sobre guerra.
Dai vem os nomes dos acidentes Bemol que posteriormente foi generalizado para rebaixar as outras notas e bequadro que indica uma nota nao rebaixada.
na verdade o bequadro indica retorno de uma nota anteriormente alterada por um bemol ou sustenido ao som original. O bequadro não faz muito sentido se não vier depois de um bemol ou sustenido. Inclusive a gente escolheu o nome bequadros por causa dessa ideia de “volta ao som original”. HáBraços!
Sonho de menino fazer parte de algo tão lindo assim